Alexandrina

ATENÇÃO! VOCÊ ESTÁ NO

Ponto 7 do Percurso Vidas
Ponto 4 do Roteiro Geral

Alexandrina provavelmente andou bastante pelas ruas e travessas que contornavam o Rio da Bulha, coberto hoje pelo calçadão da Hercílio Luz, como a Rua das Olarias, Rua da Tronqueira, Rua São Martim, Beco dos Sujos… todas perto do Hospital de Caridade e da praia Menino Deus.

Legendas: Fotógrafo desconhecido flagra mulher na rua Trajano, imagem enviada como Cartão Postal para Paris pelo francês de nome Romeo 02 de fevereiro de 1908, no verso escrito: “Estou aqui agora, em Santa Catarina, em viagem de três meses num navio de guerra”. Foto Publicada no Especial “Ô Catarina”, nº 72, de 2010.

Era no Rio da Bulha que as lavadeiras, as amas-secas, as amas-de-leite e as parteiras geralmente se encontravam, trabalhando e conversando, fazendo seus serviços, seus negócios, suas vidas. Daqui podemos ver o atual Hospital de Caridade, quase sem edificações nas suas imediações como hoje:

Legenda: casas nas imediações do Largo XIII de Maio e Hospital de Caridade em 1905

As amas não necessariamente davam os peitos para as crianças, mas auxiliavam na criação, o que fazia com que as mães verdadeiras deixassem suas crianças nas suas portas, pois sabiam que estas ganhariam dinheiro para isso. Assim, as mães não perdiam sua honra, o que era importante para um casamento e as amas viam nessa atividade uma forma de sustento, criando uma rede de solidariedade com outras mulheres.

Legenda: Anúncio procurando Ama Seca no Jornal local O Reporter, janeiro de 1897

Alexandrina, afro-descendente, morou na Rua Menino Deus entre 1884 e 1887. Antes morava em Biguaçu. Veio para cá para exercer um de seus ofícios: ama-de-leite e ama-seca. Assim, foi para perto do Hospital de Caridade, talvez para ficar próxima das crianças abandonadas e tentar criar as mesmas com objetivo de receber gratificações do município. Primeiro, ela encontrou a criança Horácio, que acabou logo morrendo. Depois, encontrou Paschoa Lessa, que foi morar com ela, possibilitando que ganhasse 2$400 mil réis da prefeitura.

Legenda: Casas nas imediações do Largo XIII de Maio e Hospital de Caridade em 1915

As amas, na época, transitavam entre o hospital e as suas próprias casas, levando consigo seus saberes próprios em reação ao corpo e as crianças. Elas geralmente também eram benzedeiras, benzendo-se, por exemplo, quando o seio endurecia. Eram saberes de matrizes culturais populares que faziam parte da rede de saberes das mulheres, como das parteiras e benzedeiras, passados de geração a geração e garantindo a sobrevivência de muitas mulheres no contexto.

Legenda: Escrava Ama Seca e seu filho de criação retratada em Recife, em 1860

Por exemplo, haviam as amas que, diferente do caso de Alexandrina, exerciam seus ofícios nas casas dos senhores. Muitas vezes tinham que dar a luz a crianças indesejadas para terem leite. Podiam ver até um estupro do seu senhor como algo proveitoso para seu ofício...

Na virada do século XIX para o XX, Desterro, já Florianópolis, viu as autoridades buscarem tornar a cidade mais limpa e higiênica, tanto fisicamente quanto socialmente. Haviam muitos ex-escravos que trabalhavam nas ruas como ambulantes e muitos desempregados, o que preocupava as elites que visavam a ordem do meio urbano. A medicina social passou a criar condutas morais para que os saberes e os cuidados com a saúde e a doença passassem a ser cada vez mais racionalizados e especializados. As proibições às parteiras e benzedeiras, especialmente, datam já o século XIX… assim, saberes de mulheres como Alexandrina foram sendo esquecidos e muitas vezes reprimidos.

Legenda: Higienização nas estruturas da cidade, obras de canalização do Rio da Bulha no começo do século XX, que hoje se localiza embaixo do Calçadão da Avenida Hercílio Luz à nossa frente

Próxima parada

Caso você tenha chegado aqui agora e quer continuar descobrindo histórias da cidade, você pode escolher fazer o Roteiro Geral ou o Percurso Estruturas, indicados. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.

Se você está seguindo as pistas do Roteiro Geral, conheceremos as senhoras que poderiam contratar serviços como de Alexandrina. Para descobrir o próximo ponto:

Siga na Hercílio Luz, sentido oposto ao mar, e entre na Rua João Pinto. Logo no começo da rua, quase na esquina, procure num poste o próximo ponto do roteiro geral.

O Percurso Vidas acabou. Parabéns, você agora sabe mais um pouquinho onde está Desterro :)

Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:

Bordados do Destino: Saberes das mulheres afro-descendentes, na passagem do século XIX ao XX, na capital de Santa Catarina, Juliani Moreira Brignol. Veja no link.

Ilha de Santa Catarina, livro iconográfico por Gilberto Gerlach publicado em 2015, Tomo I e II