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Não são piratas que vem vindo dessa vez, mas expedidores que atravessavam os oceanos num tempo que o mundo se conectava pelas águas. O mar que costeava a ilha vinha até aqui, onde agora estamos em terra firme, perto de onde talvez o português Aleixo Garcia naufragou em 1516, quando possivelmente teria morrido se não fosse pela ilha e pelos indígenas carijós.
A Ilha dos Patos era já “ponto de parada” dos expedidores europeus que se dirigiam ao sul do continente e só em 1526 foi chamada de “Santa Catarina”, nome bem diferente daquele utilizado pelos indígenas, “Meiembipe”. Aleixo Garcia então, estabelecendo contato com o outro povo, descobriu o caminho que o levaria para o Império Inca, onde sonhava encontrar rios de prata. Assim, em 1524, ele partiu junto a migração do povo carijó… como fez o expedidor Cabeza de Vaca em outras circunstâncias.
O Francês Amédée François Frézier deixou seu relato de viajante em 1712, para imaginarmos como era a cidade naqueles tempos: “É uma floresta contínua de árvores verdes o ano inteiro, não se encontrando nela outros sítios praticáveis a não ser os desbravados em torno das habitações, isto é 12 ou 15 sítios dispersos aqui e acolá à beira mar nas pequenas enseadas fronteiras à terra firme; os moradores que as ocupam são portugueses, uma parte europeus fugitivos e alguns negros; vê-se também índios, alguns servindo voluntariamente aos portugueses, outros que são aprisionados em guerra”. Continuou: “Esta gente, a primeira vista, parece miserável, mas eles são efetivamente mais felizes que os europeus, ignorando as curiosidades e as comodidades supérfluas que na Europa se adquire com tanto trabalho; passam eles sem pensar nelas”.
Mas a ilha só veio a ser um pequeno povoado de matriz européia, quando, no final do século XVII, o bandeirante de São Paulo Francisco Dias Velho mandou o filho e um grupo de indígenas escravizados e outros homens estabelecer uma comunidade agrícola. Construiu onde hoje é a Catedral uma pequena Igreja devotada a Nossa Senhora do Desterro. Essa região da Praça XV desde então se tornou um espaço central das relações sociais e culturais.
Podemos ver no mapa acima como eram os primeiros caminhos do povoado, formando um tipo de urbanização que levava como ponto principal as fontes de água, os portos e as fortificações. Só em 1726, a cidade foi elevada a condição de Vila Nossa Senhora do Desterro. Em 1748 chegam outros expedidores com intenção de habitar as terras da ilha, os imigrantes açorianos. Em freguesias como Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, Vila Nova, Nossa Senhora das Necessidades, passaram a produzir gêneros alimentícios que podiam ser comercializados e vinham de carroça, canoa ou a pé até o centro que hoje estamos. A partir daí a Vila de Nossa Senhora do Desterro se transformou em cidade, Desterro.
Os indígenas carijós povoavam a ilha na época que chegaram os primeiros exploradores. Relatos de viajantes levam a supor que viviam em várias aldeias, cada uma com 30 a 80 habitações, sustentadas por estacas de madeira, palmeiras e portas de cipó. Plantavam milho, mandioca, algodão, amendoim inhame, pimenta, tabaco e caçavam e pescavam...mas estas populações não nos deixaram relatos escritos. Aliás, existem dados arqueológicos que apontam que a ocupação da ilha data 4.500 anos atrás, revelando-nos 45 séculos de história não escrita.
Os viajantes expedidores também deixaram pinturas para que imaginemos a cidade 400 anos atrás. Duché de Farney desenhou em 1785 a “Vista da Villa de Desterro”; a expedição organizada pelo czar Alexander da Rússia ilustrou em 1803 a “Veduta Della Citta di Nuestra Senora del Desterro Nell‟Isola di S. Caterina”. Veja ambas as representações abaixo, nesta ordem.
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Caso você tenha chegado aqui agora e quer continuar descobrindo histórias da cidade, você pode escolher fazer o Roteiro Geral ou o Percurso Estruturas, indicados. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.
Siga em direção à Rua Hercílio Luz e procure no pilar de concreto da estrutura do Terminal Velho que fica na calçada desta rua, a Nico Luz, em frente à edificação nº 159, o próximo ponto do Roteiro Geral
Entre na Travessa Osmar Regueira, que acessa a Rua João Pinto e que tem uma calçada bem ampla de ladrilhos vermelhos. Logo na esquina, dobre à direita, ande alguns passos e procure num poste localizado ao lado do Instituto Arco Íris e em frente ao nº 188, na Rua João Pinto, o próximo ponto do percurso acontecimentos.
Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:
Modernidade Capitalista em Florianópolis-SC e a Dinâmica do Centro Urbano, dissertação de Geografia por Renata Pozzo. Veja no link.
O náufrago e o sonho: Aleixo Garcia e o imaginário da conquista, texto de Reinaldo Lindolfo Lohn, publicado em 2004 no livro História de Santa Catarina, Séculos XVI e XIX.
História Sócio-Cultural de Florianópolis, autor Osvaldo Ferreira Melo, publicado em 1991.