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Nessa rua, algumas das sociedades carnavalescas do século XIX desfilavam. Era onde estava o Clube 12 de agosto, sede da Sociedade Bons Arcanjos, localizada mais a frente, no nº 30, uma entre as 34 que existiram no período de 1858 a 1899..
Mas o Carnaval tinha uma folia diferente. Os portugueses trouxeram para nós o Entrudo que consistia em brincadeiras de jogar ovos, farinha, cinzas, água e os famosos limões-de-cheiro, uma bola de cera cheia de líquido perfumado, durante a Quaresma. O Entrudo passou a ser alvo de proibições em todo país no século XIX… as primeiras repressões em Desterro aconteceram em 1830. A folia foi ficando bem limitada. Porque será?
Dizia A resolução nº 149 de 28 de março 1857: “É permitido às pessoas descentes o antigo uso do (sic) Entrudo, somente nos três dias de costume, empregando para isso os limıes-de-cheiro, devendo os vendedores tanto das lojas, tabernas, armazéns e os que venderem ou mandarem vender pelas ruas, tirar licença da Câmara, pelo que pagar 2$000 réis por taboleiro, se conformidade da Lei Provincial nº 380, aos que tiverem tirado pagar 6$000 rÈis de multa. Fica absolutamente proibido usar outra coisa para tal divertimento que não sejam os limıes. Não se consentir que os cativos andem nas ruas ocupadas neste divertimento, de qualquer maneira que ele seja, sob pena de 24 horas na cadeia”.
Uma das principais explicações para a proibição era o fato que os escravos e pobres acabavam tendo a liberdade de se igualar à elite durante as brincadeiras. Isso incomodava, além de sujarem demais.
Os limões de cheiro Uma das atividades que as senhoras da sociedade desterrense se dedicavam era a fabricação dos limões de cheiro, que vendiam em casas comerciais ou mandavam vender pelas ruas, por escravos alugados ou próprios. Para fabricar o limão-de-cheiro se utilizava um limão para dar formato e era necessário muita cera para criar uma casca. Dentro se colocava uma água perfumada.
As Sociedades Carnavalescas imitavam o carnaval de Veneza e buscavam educar e “higienizar” as ruas, fazendo bailes, desfiles e pompas de matriz européia. A música que tocava era erudita e desfilavam sob uma espécie de carro alegórico chamado de carro de mutação.
O Entrudo não sumiu completamente, mas desta vez as brincadeiras aconteciam dentro dos salões e a batalha era de confetes. Os negros, criados e criadas, proibidos de participar das sociedades, ficavam do lado de fora, ou buscavam escapar da lei que os limitava, como em 1884, quando 100 negros vestidos de máscaras fizeram um bloco de Zé Pereiras.
Algumas das Sociedades Carnavalescas militaram inclusive, na década de 1880, a favor do abolicionismo, como a “Diabo a Quatro” e a “Bons Arcanjos”. A Diabo a Quatro fez um trabalho com a Câmara Municipal, arrecadando dinheiro para comprar a alforria dos últimos escravos da ilha, antes mesmo da lei oficial da abolição de 1888. Os negros só criaram um bloco para eles em 1920, chamado as Sociedades Bailantes. Já o primeiro bloco de Carnaval da cidade se chamou “Filhos da Lua”, de 1938.
Próxima parada
Caso você tenha chegado aqui agora e quer continuar descobrindo histórias da cidade, você pode escolher fazer o Roteiro Geral ou o Percurso Estruturas, indicados. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.
Siga reto toda vida em direção à Praça da Figueira, pare antes de acabar a Rua João Pinto e procure num poste do lado esquerdo, em frente à lanchonetes e entre mesas de rua, no nº 30, o próximo ponto do Roteiro Geral. Enquanto caminha, aproveite para imaginar os carros de mutação passando pela rua que hoje estamos.
Siga reto toda vida até o final da João Pinto, em direção à Praça XV. Entre dentro da Praça, aproveitando para imaginar o carnaval que acontecia nas suas imediações. Siga dentro da praça em direção à Igreja da Matriz e vá ao calçadão de frente à Igreja. Procure ali no calçadão, no poste que se localiza alinhada à Rua Padre Miguelinho, o próximo ponto do Percurso Acontecimentos.
Este texto foi elaborado com base nas seguintes pesquisas:
Entre Diabos e Arcanjos: Cultura Política e Sociedades Carnavalescas em Desterro (1879-1891), trabalho de conclusão do curso de História, por Edgar Rego. Veja no link.
Carnaval no Desterro: Século XX, dissertação história 1998 por Thais Colaço. Veja no link.
Senhoras de incerta condição: proprietárias de escravos em Desterro na segunda metade do século XIX, dissertação de História por Daniela Fernanda Sbravati. Veja no link.
Ilha de Santa Catarina, livro iconográfico por Gilberto Gerlach publicado em 2015, Tomo I e II